quarta-feira, 16 de julho de 2014

É demais da conta

Sempre fui bastante curioso sobre muita coisa. Na maioria das vezes esta curiosidade me leva a ler sobre assuntos que nada têm a ver com minha profissão, mas que me fazem pensar a respeito de possíveis correlações com aquilo tenho como essência de nossa existência e sobrevivência: energia.
Esta semana me deparei com uma entrevista muito interessante com o Professor Vaclav Smil, da Universidade de Manitoba, no Canadá. Nesta entrevista, dada à Revista Exame ele traz uma preocupação que deveria estar conosco todos os dias, o uso racional dos recursos naturais. Tenho colocado algum esforço para pensar sobre isto, pois vejo todos os dias um movimento de consumo muito grande, mas também um desperdício enorme. Como bem ressalta o Professor, somente para se ter status ou satisfazer uma ansiedade momentânea de possuir algo "melhor".
Um dado assustador que ilustra esta necessidade de contenção do consumo, e que não aparece na versão online da entrevista, é que a China usou mais cimento nos três últimos anos do que os Estados Unidos inteiro no século XX. Um crescimento baseado em consumo e não em qualidade de vida poderá fazer com que o planeta não consiga sustentar a crescente população mundial. Mas o que isto tem a ver com energia?
Tudo! É a resposta que me veio à mente. O que tenho percebido é que nossa política energética é baseada no aumento de consumo e muitíssimo pouco investimento em qualidade e racionalidade. Certamente fruto da política de crescimento da economia, também baseada no consumo. Há muito os especialistas em eficiência energética afirmam, sem que alguém os consteste consistentemente, que no Brasil se desperdiça uma usina de Itaipu por falta de programas de conservação de energia. Mas onde estão os programas de eficiência que fariam com que esta dependência fosse menor?
O que se vem fazendo em termos de planejamento é diminuir a dependência hidrológica através da inserção de alternativas como o gás natural, a eólica, a biomassa, etc. Mas vejamos: a eólica é intermitente, o gás natural não tem uma política clara, sequer tem distribuição suficientemente ramificada para atingir áreas que estão em franco crescimento, como a nova fronteira agrícola, no Centro-Oeste. Se formos pensar em carvão, temos que importar uma boa parte. Nosso programa nuclear é pífio e até hoje não conseguimos terminar a construção de nosso parque em Angra dos Reis (eu era muito criança quando esta conversa começou).
Alguém me explique por que é tão difícil implantar programas de eficiência energética quando todos os atores do setor se manifestam a favor de medidas para racionalização do consumo.

Nenhum comentário: