quinta-feira, 1 de maio de 2014

Diversidade da matriz, de novo

Esta semana li dois artigos muito interessantes. Ambos mexem em vespeiros de diferentes vespas. O primeiro atende pelo título de "Renewables Aren't Enough. Clean Coal Is the Future", o segundo é o "All at sea - Researchers find advantages in floating nuclear power stations".

O corpo do artigo da Wired, o primeiro deles, trata do temível carvão e fala da instalação chinesa denominada GreenGen, um projeto conjunto entre o governo Chinês e a Peabody Energy, que vem a ser a maior mineradora privada de carvão do globo. Parece justo, o maior importador e o maior fornecedor, juntos no que parece ser uma empreitada para limpar a geração de energia a partir do carvão. Não se trata de defender ou atacar o carvão, mas de divulgar o que vem sendo o desenvolvimento de uma tecnologia que pode reposicionar o carvão junto à percepção do público.

A usina em questão é utilizada para se testar a tecnologia de limpeza dos gases da chaminé das usinas a carvão, visando a captura do dióxido de carbono, CO2, um elemento que contribui fortemente para o agravamento do efeito estufa. Assunto batido, não vou me alongar sobre o efeito estufa. A planta de separação do CO2 usa a tecnologia de absorção por amina. O CO2 separado é estocado no subsolo, a uma profundidade que varia em função do volume de gás e características do subsolo. É projeto para consumir alguns bilhões de dólares, mas, se alcançar seus objetivos, irá recolocar no mercado um combustível cuja reserva é a maior do planeta e que contribui com mais de 40% da eletricidade gerada no mundo.

A segunda reportagem foi publicada pela The Economist, apresentando a proposição de pesquisadores do MIT, da Universidade do Winscosin e da Chicago Bridge & Iron, empresa de engenharia offshore e nuclear. A ideia é simples: instalar usinas nucleares em alto mar, onde há uma imensa massa de água para resfriá-las. A segurança é, em tese, maior, pois não haveria falta de fluido resfriador e tsunamis em alto mar não causam o mesmo impacto que quando atingem a terra firme. Além de simples, a ideia não é nova, o artigo descreve situações implantadas e tentativas de se instalar usinas em navios e plataformas.

Na verdade, o que estes dois artigos mostram, o primeiro já no título, é que as fontes renováveis não serão suficientes para suprir as necessidades da humanidade. Tampouco o serão os fósseis. Embora existam reservas provadas de carvão, por exemplo, para mais de 100 anos - convenhamos, isto é pouco! - até lá há que se inventar/descobrir/melhorar alternativas viáveis.

As fontes renováveis vêm crescendo nos últimos anos. O custo específico de usinas eólicas e fotovoltaicas declinou sensivelmente. Mas ainda assim, o carvão foi a fonte que apresentou maior taxa de crescimento dentre todas as fontes. Tomara que o projeto Chinês dê certo, e que outros sigam a linha de fazer do carvão um combustível mais amigável ao meio ambiente.

As pesquisas e propostas a respeito do uso da energia nuclear sugerem o mesmo. As renováveis ainda têm muito chão pela frente. Um dos principais desafios é aumentar a eficiência e a disponibilidade destas fontes. Certamente estamos no caminho. Um longo caminho. E aqui fica meu desejo de que se invista o mesmo esforço em cada fonte renovável que se investindo no carvão e nas nucleares.

A atual situação energética do Brasil mostra que o equilíbrio é a melhor saída. Depender de uma só fonte é viver com a espada no pescoço, sem ter para quem pedir socorro nos momentos em que esta fonte seca - sem trocadilho. Somos, sim, privilegiados pela abundância de rios, mas a seca não obedece às regras políticas e não senta para negociar com ministros e tecnocratas. O país precisa investir mais contundentemente no desenvolvimento de tecnologias de uso de outras fontes, renováveis e não renováveis, ou sofrer a cada 5 ou 6 anos o rigor com que a natureza trata os displicentes.

Uma matriz balanceada respeita o ditado que sempre ouvi: quem come de tudo, não morre fome.

Referências para este post:

1. Renewables Aren't Enough. Clean Coal Is the Future - link.
2. All at sea - Researchers find advantages in floating nuclear power stations - link.

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